segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O TRABALHO QUE ILUMINA

O TRABALHO QUE ILUMINA
C. Freinet
Claro! Certamente existem enxadas, arados e instrumentos mecânicos tão aperfeiçoados, que cavam o solo e semeiam o grão sem que você tenha que enfrentar a aridez da terra. Mas, quanto a mim, ao preparar uma sementeira, gosto de peneirar a terra com as mãos e apertar as pedras amorosamente, como se alisa o berço macio de um bebê.
É isso: um mesmo trabalho pode ser obrigação ou liberação. Não é uma questão de novidade, mas de iluminação e de fecundidade.
Você conhece a história de “descascar batatas”, no regimento? Há uma arte – de que a Escola fez uma tradição – para funcionar o mais lentamente possível, sem no entanto se deixar de trabalhar. É stakanovismo ao contrário. E quando se trata de pegar a vassoura para varrer as cascas das batatas, é o próprio cabo que tem de se encarregar da tarefa.
O soldado sai de licença, e vai ver a mulher. Fazer a sopa, descascar as batatas, até varrer, tudo isso se transformou em prazer de que ele reclama o privilégio.
A tarefa da manhã transformou-se numa recompensa!
Acontece o mesmo na escola, onde certos trabalhos gastos pela tradição serão, amanhã, procurados como atividades novas que você julgará exclusivas. Não procure a novidade; a própria mecânica mais aperfeiçoada chega a cansar, se não atender às necessidades profundas do indivíduo. No número cada vez maior de atividades que lhe são oferecidas, escolha primeiro as que iluminam sua vida, as que dão sede de desenvolvimento e de conhecimentos, as que fazem brilhar o sol. Edite um jornal para praticar a correspondência, recolha e classifique documentos, organize a experiência tateante que será a primeira fase da cultura científica. Deixe desabrochar os botões de flores, mesmo que às vezes o orvalho os molhe.
Tudo o mais lhe será dado por acréscimo.

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