quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O TRABALHO EM MIGALHAS

C. Freinet


“O trabalho em migalhas”, diz um autor...
Só há migalhas na nossa vida de educadores. Nem sequer conseguimos reuni-las, o que aliás seria inútil, pois migalhas de pão espremidas e enroladas nunca dão mais do que bolinhas, boas apenas para servir de projéteis nos refeitórios.
Migalhas de leitura, caídas de uma obra que ignoramos e que têm gosto de pão que ficou ressecando nas gavetas e nos sacos.
Migalhas de história, umas bolorentas, outras mal cozidas, e cuja amálgama é um problema insolúvel.
Migalhas de matemática, e migalhas de ciências, como peças de máquinas, sinais e números que uma explosão tivesse dispersado e que nos esforçamos por montar, como um quebra-cabeça.
Migalhas de moral, como gavetas que mudamos de lugar, no complexo de uma vida de infinitas combinações.
Migalhas de arte...
Migalhas de aula, migalhas de horas de trabalho, migalhas de pátio de recreio...
Migalhas de homens!
Perigos de uma Escola que alinha, compara, agrupa e reagrupa, ausculta e avalia essas migalhas.
Urgência de uma educação que evita a explosão irreparável e faz circular um sangue novo na função viva e construtiva da pedagogia do trabalho.

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