C. Freinet
Nós nos esquecemos de um capítulo na história do cavalo que não está com sede.
No momento preciso em que o rapaz mergulhava, na água do tanque, o focinho do cavalo-que-não-está-com-sede, e que, puf!, o sopro obstinado do animal espirrava a água em cascata em volta da fonte, surgiu um homem que declarou sentenciosamente:
- Mas... então, troquem a água do tanque!
Isso feito imediatamente, pois – ordem das autoridades – era preciso obrigar aquele cavalo-que-não-está-com-sede a beber.
Trabalho perdido. O cavalo não estava com sede nem de água turva, nem de água limpa. Ele... não estava... com... sede! E deixou isso bem claro quando arrancou a rédea das mãos do jovem tratador e partiu trotando para o campo de luzerna.
E, assim, o problema essencial da nossa educação não é de modo algum – como pretendem hoje nos fazer crer – o “conteúdo” do ensino, mas a preocupação essencial que devemos ter de fazer a criança sentir sede.
Então, a qualidade do conteúdo seria indiferente? Só é indiferente para os alunos quem, na escola antiga, foram treinados a beber, sem sede qualquer bebida. Habituamos os nossos a considerar primeiro toda bebida como suspeita, a experimentá-la e a verificá-la, a elaborar eles mesmos o seu próprio juízo e a exigir, em todo lugar, uma verdade que não está nas palavras, mas na consciência de relações justas entre os fatos, os indivíduos e os elementos.
Não preparamos homens que aceitarão passivamente um conteúdo – ortodoxo ou não -, mas cidadãos que, amanhã, saberão enfrentar a vida com eficiência e heroísmo e poderão exigir que corra para dentro do tanque a água clara e pura da verdade.
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